09.04.2020
Santo André, dia 09 de Abril de 2020.
A impossibilidade de me locomover pela cidade, me deixa em lugar de imobilidade. Inércia os dias passam as horas eu não sei quais são. Não tenho vontade de fazer nada. Não tenho perspectiva de nada. O incerto de tudo me coloca de frente com um abismo. Que abismo é esse? É meu? É do outro?
Tudo o que eu tenho são meus pensamentos incertos, passo os dias constantemente navegando pelos meus pensamentos. Tudo é muito insano e eu sempre me pego pensando em
A impossibilidade de me locomover pela cidade, me ensinou do que eu sinto falta. Da rotina, do vento no rosto quando um ônibus passa em uma velocidade maior, encontrar algum conhecido de forma inesperada na rua. Estar na rua. Essa impossibilidade, nos mostra como somos frágeis sem um coletivo também, ela nos mostra todas as nossas fraquezas. No que cabe a mim, estou tentando abraçar minhas fragilidades cada vez mais, porque é uma das coisas mais concretas que posso fazer apesar de parecer muito abistrato.
Hoje escrevi uma atividade sobre o filme Ponto de Mutação, por conta do isolamento as aulas estão se dando de forma virtual. Apesar de não ter encontrado nenhuma resposta, encontrei muitas perguntas e por isso vou partilhar aqui.
O que é a vida? Como saíremos desse labirinto?
“É inútil prolongar a conversa de todo este silêncio.
Há coisas que são difíceis de dizer…”
- Álvares de Campos
Uma reflexão sobre o filme Ponto de Mutação do Bernt Amadeus Capra.
O meu primeiro pensamento após o filme foi: como que foi possível colocar, em falas, em um filme tantos pensamentos difíceis? Após isso nada. Nenhum pensamento se concluía, tanto que eu demorei para escrever. Depois da falação da personagem da Liv Ullmann, eu sinti como se as palavras tivessem me sido tiradas. Os espaços vazios entre uma coisa e outra aumentaram. Não consigo verbalizar as impressões ou como o filme me atravessou.
Um disparador importante levantado pela física no filme é exatamente o modo de pensar, o modo como pensamos as coisas define como nós agimos sob as coisas. No filme, é preciso o isolamento para a física conseguir mudar o seu modo de pensar e ver tudo o que existe. E fazendo um paralelo com o isolamento social que estamos vivendo, talvez (e eu acredito que seja) é o momento de todos e todas mudarmos nosso modo de ver e pensar a vida e tudo o que existe. Mas ao mesmo tempo eu questiono: ok, o primeiro passo talvez seja o modo como pensamos as coisas. Mas após mudarmos esse pensamento, o que fazer? Como agir? Qual é o pensamento correto? Existe pensamento correto? Será que nós só caminhamos para estradas que nós nos identificamos? E aí, o que é a vida? Como saíremos desse labirinto? Talvez o problema seja agir de fato, será que se encontra soluções sem tentar fazer algo?
Uma frase do Krenak que me marca muito que acredito ser um ótimo disparador para mudar, pelo menos a minha forma de pensar é: “Eu não consigo tomar escolhas sem os meus sonhos”. E durante o filme as palavras do Ailton Krenak em Ideias Adiar O Fim Do Mundo ficavam aparecendo na minha cabeça, o que ele diz sobre nós humanidade, a natureza, e tudo. E eu acredito muito nas palavras dele, mas como caminhar em direção ao que ele diz? Eu nascido e criado no grande ABC?
Voltando para o filme, mas pensando também no Ideias Para Adiar o Fim Do Mundo, a física fala em determinado momento que nós como matérias estamos sempre ligados às coisas, como uma grande teia. E eu sei, pelo menos acho que sei, que eu também sou os cheiros que conheço, as coisas que eu toco, as pessoas que conheço e tenho uma troca… E isso me dá uma sensação de aconchego mas ao mesmo tempo me parece uma zona de conforto. E me sinto imóvel. E por conta disso me surgiu um silêncio na mente, e escrever está parecendo algo muito flutuante. Porque me ao mesmo tempo que é fácil, porque tudo está conectado, é muito difícil pensar em tudo ao mesmo tempo ou até mesmo em parte. E o pensar fica parecendo escolhas arbitrárias, logo muito provavelmente a minha escrita vai parecer um devaneio, um apanhado de pensamentos que começam a criar formas, ainda muito abstratas na minha cabeça. No que pensar? No que não pensar? E eu que já não sou de muitas certezas fico com mais dúvidas ainda. E, apesar do filme me parecer um tanto quanto “apontador de caminhos” para o nosso modo de pensar, e parecer que as coisas se tornam mais nítidas, a partir do momento que o filme acabou e eu fui tentando ligar os meus pensamentos ele foi deixando tudo mais opaco. Eu entendo a minha troca física com a cadeira que eu estou sentado, com o ar, com a Terra, mas tudo me parece alheio. Ao mesmo tempo que não, que tudo é tudo.
A personagem da Liv Ullmann diz que temos de ver tudo como uma grande teia de conexões, que não dá pra pensar os problemas do mundo de forma fracionada. Mas o modo como nós vivemos não alcançou uma forma tão complexa de existir que como desenrolar esse novelo de lã? Como tornar a vida menos complexa? Será que precisa ser menos complexa? E o que significa ser menos complexa?
Talvez a busca seja sempre por perguntas ou aguardar o nosso momento de mutação. E enquanto fazemos essas perguntas a gente dança em meio à destruição e a criação, como dito no filme.
Não consigo colocar os meus pensamentos de forma objetiva, talvez o meu primeiro passo seja esse.
Como saíremos desse labirinto?

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